quarta-feira, 15 de agosto de 2012

NA AVALANCHE por Cristian Costa

Tudo ao contrário

Eu tenho um camarada, o Róger. Cara bonitão, boa-praça, sempre rodeado de amigos e belas mulheres.

Esses dias o Róger me ligou pra dar uma banda aqui pela Cidade Baixa na sexta-feira. Prontamente aceitei. No dia e hora combinada fomos a um bar na João Alfredo, o 512. Eu casado, tava na minha, mas o Rogér estava igual presidiário esperando o indulto de Natal: completamente indócil. O cara não parava de olhar para os lados em busca das melhores mulheres do recinto. Vestindo calça jeans descolada, tênis moderno e camisa pra fora, o cara era o cara da festa. Pensei cá com os meus botões: “Vai atropelar a mulherada”.

O problema era esse, parceiro, o som tava bom, a ceva tava gelada, mas a mulherada não correspondia a expectativa. O Rogér deu de ombros pra qualidade do material oferecido e foi a luta. Puxou assunto, ofereceu bebida, tentou chegar chegando e nada. Nem a mais feia da festa o curtiu. Ele saiu dali sentindo-se o último entre os últimos, uma espécie de Geraldo Santana no Estadual de Futebol de Mesa por Equipes.

No caminho, vendo que o cara tava arrasado, disse pra ele esquecer e o convidei para jogar bola no sábado de tarde no terrão da Redenção.

Lá pelas cinco horas da tarde de sábado, depois de mais de três horas de bola rolando, eu e o Róger ficamos jogando conversa fora perto das quadras de basquete. Os dois imundos em função do quase saibro do terrão. Passa pela gente uma morena escultural, uma espécie de Megan Fox estilo arrasta sandália. Vestidinho hippie, óculos escuros, sandalinha, bolsa de chimarrão atravessada e uma cuia na mão. Ela dá uma encarada no Róger e dispara sem pudor: “Oh, lá em casa”, no melhor estilo Pedro e Bino, da série Carga Pesada.

O Róger, que não é bobo nem nada, levanta mais rápido que o Bolt correndo 100 metros rasos e vai na direção dela. Os dois somem da minha visão enquanto eu olho a tudo embasbacado.

Horas depois ele me liga. Só pela voz já sei que o final de tarde início de noite foi pegado. Ele conta tudo, principalmente os mínimos detalhes. Depois, quase gritando no telefone, revela que a morena morava com uma amiga - uma loirinha de dar água na boca, segundo o Róger. A amiga pegou os dois na ativa no meio da sala. Mas ela não se encabulou e partiu pra dentro do embate. O que já era bom, ficou ótimo.

O Grêmio está assim como o Róger. Quando a gente pensa que vai atropelar, tropeça ou ganha na bacia das almas. Quando a gente não espera nada vence um grande do futebol brasileiro na casa dos caras.

É o tricolor somando seus pontos e chegando no bloco da frente devagarinho, ou seja, só no sapatinho que é pra não assustar a rapaziada da zona sul e norte do Rio de Janeiros e os concorrentes do time do Sonda quando o assunto é fila em conquistas de campeonato brasileiro.

Vamô que vamô.

Estadual

Na quinta ou na sexta prometo escrever no meu blog sobre o campeonato.

Jogos Olímpicos 

O blog do José Cruz, no Uol, mata a pau. Lá o cara escancarou a falta de patrocínio para o Arthur Zaneti, para os irmãos Falcão e para a Yane Marques. Enquanto isso o Eduardo Paes, prefeito da cidade maravilhosa, chega tremulando a bandeira olímpica que nem uma porta-bandeira de quinta categoria. Ao lado dele o escroque do Nuzman: um verdadeiro mestre-sala na arte de se manter no poder.

Ainda no blog do José Cruz: “O orçamento federal reservou R$ 1 bilhão para aplicar na construção e coberturas de quadras de esportes em escolas, Brasil afora. Mas até agora, a quatro meses e meio do final do ano, não aplicou nem 10% desse valor, mas apenas 8,5%…”

Os dois parágrafos abaixo são do José Dalci, blogueiro do Uol especialista em tênis.

O brasileiro tem vocação para o esporte, mas não lhe dão oportunidade na escola, nem na universidade. Erramos pela base e depois ficamos a procurar explicações para violência e falta de sociabilidade. O Comitê Olímpico só quer saber do alto rendimento, que afinal lhe garante visibilidade, e destina fortunas para Confederações mal administradas que novamente só irão querer investir no atleta de ponta.

Praticamente ninguém quer o trabalho árduo da base, que na maioria das vezes não rende votos, nem manchetes. Os que fizeram isso são os únicos que colhem frutos com frequência. Todo mundo quer ser tão bom quanto o vôlei, mas quem realmente investiu no processo formativo? Campeão ou vice, ouro ou prata ou bronze, o vôlei está em evidência há exatos 30 anos, renovando-se continuamente. Não é só talento. É base.

É isso Dalcin. Políticos e aspones só aparecem para ficar bandeirando nas esquinas às vésperas de eleições.

Temos 33 milhões de estudantes, mas é potencial ainda desprezado devido à falta de projetos a partir da prática de educação física, ponto de partida para criar nos jovens a cultura do esporte. O COB só financia o alto rendimento. Mas como chegar ao alto rendimento sem investimento na base. É como construir uma casa pelo telhado. Quem sabe os Jogos Escolares mudem essa realidade.

Não considero ruim o desempenho de Londres. Ele se torna ruim em função dos valores investidos que muitas vezes não chegam aos atletas morrendo no caminho no bolso de presidentes de federações e confederações.

 O Mário, certo como sempre, falou em investir nos esportes de luta. Concordo. Eles dão muitas medalhas, mas tu só pode levar um atleta por categoria. Porém, o verdadeiro filão, apesar da grande concorrência, é o atletismo (três atletas por prova) e a natação (dois atletas por estilo). O problema é que esses esportes foram muito mal, principalmente o atletismo. A única informação que nos dá certo conforto, é que duas semanas antes dos jogos de Londres, o Brasil fez a sua melhor participação no Mundial Júnior de atletismo ao ganhar três medalhas. Uma delas, bronze, nos 100 metros rasos feminino com uma catarinense de apenas 16 anos.

Acho que o mais importante não é ficar numa boa posição no quadro de medalhas porque ganhou várias medalhas de ouro. Ou alguém imagina que a Coreia do Norte e suas seis medalha, quatro de ouro, é mais olímpica que o Canadá e suas dezoito medalhas no geral, mas apenas uma de ouro?

Pra mim o fundamental é aumentar o leque de esportes com medalha e chegar em várias finais. O Brasil fez 42 finais, o mesmo número de Pequim.

Para o Rio de Janeiro, o Brasil deve dobrar o número de medalhas em função de muitos fatores como o apito amigo que tanto beneficiou os britânicos no boxe e tirou uma medalha de ouro do peito do Esquiva Falcão.

Agora é torcer por nossos atletas, mas sem esquecer que os Jogos Olímpicos não se restringem apenas ao fato de torcer por atletas do seu país, mas sim para ver a nata do esporte mundial reunida e competindo em alto nível. Qual evento reúne Federer, Lebron James, Phelps, Bolt, Lauren Jackson, Gamova, Teddy Riner, Robert Scheidt, Allyson Felix, Kerri Walsh, David Rudisha, Neymar, Murray e por aí vai. Quem curte esporte como eu, o Mário, o Caju, o Pedrinho, o Maurício Cadore, o Jeff Bodão, sempre divide as datas em Jogos Olímpicos e Copa do Mundo.

Quem não curte, desdenha e trucida os atletas sejam eles brasileiros ou não. Realmente, é melhor jogar botão do que participar de uma Olimpíada.

2 comentários:

Pedrinho Gmail disse...

Informo a todos que o Conexão Liso voltará, com muitas imagens das Olimpíadas de Londres, para a alegria do Cristian.

GOTHE disse...

Para que o Brasil possa amadurecer em várias questões, será preciso primeiro terminar com o hábito fácil e burro de generalizar. Todo o dirigente é imprestável, todo atleta é o cara, todo o político não vale nada, todo o eleitor devia estar no reino de Deus, todo jornalista é correto, todo objeto de sua matéria é suspeito, melhor, culpado, etc.

Quem é político começou só eleitor e é cidadão, vários dirigentes esportivos foram atletas, vários jornalistas dariam boas matérias para escândalos dos mais podres, o Policarpo da Veja como anda “parecendo”, é um exemplo disso. É preciso separar o joio do trigo, sempre. Generalizar é atitude irresponsável, nojenta.

Quando vejo uma eleição na rua, as bandeiras desfraldadas, a democracia nos possibilitando o direito de falar e agir livremente, lembro sempre de um amigo próximo que lutou por tudo isso (como eu lutei em menor escala do que ele), e tantos outros mais, que com apenas 25% dos intestinos de tanto apanhar, morreu. Morreu para que alguns iluminados hoje pudessem falar.

Era de uma geração antes da minha, e grande parte da minha brigou igualmente e contribuiu para a redemocratização deste país, para que tivéssemos justamente de volta as bandeiras nas ruas, as palavras livres e não só, camburões e sombras.

Tenho esperança que alguns espécimes das atuais gerações e das outras que virão, hoje em grande parte escondidas na comodidade dos teclados e na arrogância e soberba do discurso fácil, também arregacem as mangas e auxiliem nas necessárias transformações, sejam elas, sociais, políticas ou de outra ordem, que atuem como vidraças como atuamos, é claro, além do bar, local do qual sou um tipo que gosta muito também.

* No aguardo do CONEXÃO Pedrinho !

Um abraço,
Gothe.