quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

NA AVALANCHE por Cristian Costa

Faltam três dias e algumas horas pro início da despedida de um templo sagrado.  No dia 19 de setembro de 1954, o Grêmio inaugurava sua nova casa, o Estádio Olímpico.  Um projeto que contou diretamente com a participação do torcedor quando evidenciou-se a necessidade de uma modificação tendo em vista o crescimento acelerado da Nação Gremista que já não cabia mais na antiga Baixada.
Depois de muito trabalho e com a união de todos, uma grande festa marcou a inauguração da nova casa tricolor. O adversário era o Nacional do Uruguai, uma das maiores equipes da época na América do Sul.  O Grêmio venceu pelo placar de 2 a 0 com Vitor marcando os dois primeiros gols da era Olímpico.

No início da nova casa, Foguinho revolucionou o futebol gaúcho e vencemos 12 de 13 estaduais entre 1956 e 1969. Em 77, André Catimba pulou para a glória e o hospital para nos dar o campeonato gaúcho.

No Olímpico assisti meu primeiro grenal: 2x1, em 1987. Dois gols de um estreante. Um ponta esquerda cearense chamado Jorge Veras.

Na minha segunda casa tive meus dias mais felizes. A conquista da Libertadores em 95. O chute de esquerda do destro Ailton, aos 38 do segundo tempo, em 96 na final do brasileirão contra a Portuguesa.

Não tenho palavras para descrever o que este estádio e este time significam na minha vida. Me apaixonei pelo Grêmio desde sempre. Várias coisas aconteceram na minha vida e muitas delas relaciono a jogos do Grêmio. Em 1992, deixei de escutar o meu primeiro jogo do tricolor. Era uma quarta-feira à noite e o adversário era o Lajeadense pelo campeonato gaúcho. O motivo: a primeira transa da minha vida com uma namorada.

Meu primeiro emprego como jornalista iniciou quatro dias antes do Grêmio vencer o Corinthias por 3x1 e colocar a mão na Copa do Brasil de 2001. Terminei um relacionamento na semana em que o Grêmio começaria a disputa da segundona em 2005 . Uma derrota de 2x1 para o Gama. Meses depois ligaria chorando pro meu pai agradecendo por ser gremista. O motivo um só: a Batalha dos Aflitos.

Vai ser duro sair do Olímpico sabendo que não vou percorrer mais a pé as tradicionais João Pessoa e Azenha ao lado de companheiros de tantas jornadas. Não tenho um lugar cativo no estádio. Já fui atrás do gol, na social. Conheço cada canto do Olímpico.

Lá eu vi o lateral Róger marcar os dois únicos gols da sua carreira no Grêmio contra o Pelotas e o Flamengo. Vi o Zé Afonso marcar seis gols contra o Lajeadense numa goleada de 8x0. Vi o Dinho dar uma voadora no Valber. Vi Airton (lateral esquerdo) dar um balãozinho de costas no Heider, ponteiro direito do Inter.

Vi meu pai chorar que nem criança e amigos saírem de lá dispostos a beber e comemorar como se não houvesse amanhã. Vi o Grêmio ganhar de 4x2 da Portuguesa e contar com cinco resultados paralelos para se classificar para as quartas do brasileirão de 98.

Vi e vivi muita coisa...

Acho que lá em dezembro, a galera vai ficar conversando. Fingindo que nada está acontecendo, com a simples desculpa de ficar mais uns minutinhos no estádio. Vejo todo mundo no outro dia ainda por ali. Os mais velhos falando do tanque Juarez e da categoria de Airton Pavilhão. Ou como Marino e Alcindo maltratavam os colorados. Lembrarão da dupla de volantes: Milton e Elton. E de Gessy, o lendário.

Os acima da minha geração falarão dos tempos obscuros da década de 70. Dos 3 gols de Zequinha em 1975. Vão rir ao lembrar da cambalhota mal executada pelo baiano André. Vão falar da redenção nas chuteiras de China, Baidek e do imortal Renato que transformou o mundo numa extensão da Azenha.

Eu e os meus amigos vamos comer um cachorro quente calmamente. Vamos lembrar do Gremio ínfernal do final dos anos 80. Lima, Jorge Veras, Cuca, Bonamigo. E o velho Maza no gol crescendo em grenais.

Depois saudaremos Nildo o cangaceiro, herói de 94. A venda de Pingo e Agnaldo para construir o maior Grêmio da história. Campeão Brasileiro, da Libertadores, da Recopa e da Copa do Brasil.

As novas gerações falarão da geral que revolucionou o jeito de torcer no país e dos feitos do time de Tite. Da batalha dos Aflitos e do orgulho em ser tricolor.

Orgulho que não termina com o Olímpico, mas que vai dar uma baita de uma saudade, ai isso vai dar meu velho.

7 comentários:

Maurício disse...

Cristian que texto maravilhoso e emocinante...
Ao ler este texto, passou um filme na minha cabeça...
Um filme de muitas alegrias...
Meu velho concordo muito contigo, os momentos que vivi no olímpico foram maravilhosos, sensacionais e únicos... Cada jogo foi uma história e posso também afirmar que este estádio fez e ainda faz parte de maior parte dos meus anos vividos... Com certeza já chorei no monumental, porém isto pouco importa, porque ao ler este texto o que vem na memória são os momentos mais lindos, emocionantes e alegres possíveis...
Deixo aqui um agradecimento muito especial ao meu PAI...

PAI MUITO OBRIGADO POR ME FAZER UM GREMISTA ETERNO!!!

Cristian parabéns pelo texto e espero este ano poder encontrar meus amigos no monumental, pois com certeza irei aparecer aí neste TEMPLO SAGRADO, a distancia Sampa - POA é pequena perto da grandeza do AMOR que tenho por este time chamado GRÊMIO!!!

Grande abraço!!!

Maurício Ferreira (Chambinho).

Cristian Ferreira da Costa disse...

tu disse a palavra certa, Maurício: únicos. estaremos lá sim e quem sabe abraçados, bêbados e comemorando amis um título do Grêmio na "velha casa". grande abraço

Rodrigo Bernardes disse...

Grande Cristian!!

Tu deverias ser o nosso representante na imprensa e não o Paulo Sant'Ana. A sinceridade que colocaste no teu texto e as lembranças que narraste ao longo dele me faz enxergar a dimensão que tem o Grêmio em nossas vidas.

Estávamos todos lá! Sentados em lugares diferente do Monumental, mas com o mesmo sentimento de orgulho.

Só tenho a te agradecer meu amigo, pelo texto. Te espero lá no CM no sábado, pra batermos um bolinha após a primeira vitória do Grêmio no Gauchão, se Deus quiser.

Grande Abraço.

Fabio Cunha disse...

Cristian,
Matou a pau!
Me fez lembrar da final de 83. Estava na bandeira de escanteio onde o Renato deu aquele cruzamento maluco pro Cesar. Lembrei do meu falecido pai que estava junto. O quanto pulamos e nos abraçamos. Muito emocionante!
Parabéns a ti e a todos nós por sermos gremistas e presenciarmos momentos tão marcantes.

Abraço,

Fabio Cunha

Carlos Kuhn disse...

OBRIGADO Cristian!

Grande abraço tricolor do conterrâneo.

Carlos Alberto

Pedro C Hallal disse...

Cristian,

Parabéns pelo texto, mas fiquei com uma dúvida. Se a tua primeira transa com uma namorada foi em 92, as anteriores teriam sido com um namorado?

Abraços,
Pedrinho.

Daniel disse...

Isto é ser gremista, cantar, saudar, emocionar,vibrar, valorizar.
Ser Gremista é uma paixão uma religião.
Somos sim diferentes, somos de coração uma nação.
Não existe nenhuma situação que nos coloque em duvida, somos sim tricolores.
E nada nos faltará, dá-lhe Grêmio.

Valeu meu parceiro.
Dani