Velhos amigos que deixaram saudade
Geraldo Cardoso Décourt (São Paulo)
Eu tive a felicidade de conhecer
e conviver por algum tempo com o grande Geraldo Cardoso Décourt. Muitos
atribuem a ele a criação do futebol de mesa em nosso país. Coisa que ele sempre
detestou e repudiava, pois segundo sua biografia escrita para o Futebol e
Botões, ele aprendeu a jogar em 1922, com os Irmãos Mangini (Higino e
Francisco), no Rio de Janeiro. Como era organizado, publicou em 1930 o primeiro
exemplar contendo regras de futebol de mesa (na época ele apelidou de futebol
Celotex, pois jogavam em mesas feitas com esse material, proveniente dos Estados
Unidos e semelhante ao
Duratex). Décourt
morou em Porto Alegre por cinco anos, por volta de 1946, tendo promovido um
campeonato aberto com cobertura pela Folha da Tarde, onde se inscreveram,
segundo ele relata, uns 400 botonistas. Décourt escreveu um livro e nele
dedicou um capítulo ao futebol de mesa. Quando o fez, estava com 76 anos de
idade e a renda da venda dos livros servia pagar ajudar a pagar seu caro
tratamento.
Em abril de 1987, publicou um
comunicado circular que enviou a todos os seus amigos, como uma forma de
propaganda do livro, do qual transcrevo alguns trechos:
“Impossibilitado de fazer cartas
individuais (mais de uma centena), optei pela forma que estou usando (circular)
no que espero ser compreendido. Para os que estão lembrados, meu livro teria o
título “Enquanto Puder Possa” e o subtítulo: “Tchau, tchê!”Eis que a minha
paralisia parcial impediu-me de Poder-Poder... e alterei o esquema inicial
transformando-o num “Aconteceu, sim!”
Mais detalhes do “acontecido”
vocês vão encontrar na leitura do mesmo, que acompanha esta. Não quis fazer um
livro árido sobre o quanto penei na fase mais cansativa e sofredora que passei.
Procurei fazer um trabalho fluente em sua narrativa, estimulante e aconselhador
pela Experiência ganha em meus 76 anos de Vida-Vivida, na vida que me foi dada
viver. Fiz um trabalho para ser lido e estudado ponderadamente. Não contarei só
a minha história, mas a de muita gente. Ainda ontem vendi cinco exemplares (um
para cada filho de meu analista de 58, todos com mais de 30 anos, já formados,
residindo um em París). Soube que na época para melhor conduzir minha recuperação,
seu pai, comprou livros de arte, telas e tintas. (Décourt era pintor de
quadros). Vi então que fiz um livro para o Futuro.
Na parte sobre o botonismo, o
nosso futebol de mesa, fui histórico e infelizmente não pude ser extenso, pois
já disse tantas vezes e novamente repito: José Ricardo Caldas e Almeida, por
ser mais jovem será o Historiador com mais possibilidade de êxito e possui
farto material em mãos. Quis em minha
abordagem explicitar aos ex-praticantes e não alinhados, que o futebol de mesa EXISTIU, EXISTE E EXISTIRÁ SEMPRE, QUEIRAM
OU NÃO. Infelizmente, como o MAIS VELHO no metier, fui injustamente
codificado como caduco, e um radical-saudosista. Puro engano, mas SAUDOSISTA
SEREI SEMPRE E CADA VEZ MAIS, pois sem pessimismo, não possuo no momento a mais
remota previsão de voltar a praticá-lo, pois embora recuperado em minha
musculatura, meus pés não me permitem ficar em pé (num simples Kick-off) e de
cadeiras de rodas NINGUÉM JOGARÁ COMIGO...
Para encerrar, cada um de vocês
organizará um grupo de interessados no meu livro, ao preço unitário de Duzentos
Cruzados. Acumulem o arrecadado, remetendo-me em cheque nominal. De posse do
mesmo remeterei o pedido, pois MEU LIVRO NÃO SERÁ VENDIDO EM NENHUMA LIVRARIA
DO BRASIL. CONTO COM O APOIO DE VOCÊS. Obrigado.
Esse era o grande Décourt. Eu
enviei o cheque nominal a ele, fazendo um pedido de diversos livros, muitos dos
quais doei a amigos que praticavam o futebol de mesa. O meu, que ainda conservo
em minha prateleira, veio com uma dedicatória que valoriza muito a obra:
“Ao bom “irmão” SAMBA um pouco
mais de minha história para que tome conhecimento do que me... ACONTECEU,
SIM... na vida que me foi dada viver. Abraço do “Raposão” DÉCOURT. São Paulo,
abril/87.
Décourt faleceu em 27 de maio de
1998, deixando uma imensa saudade em todos os seus amigos e familiares.
Walter Morgado (Brasília)
Esse amigo de Brasília foi um
amigo por correspondência. Nunca estivemos juntos, frente a frente. Apenas
conversávamos por correspondência, apresentados pelo amigo comum José Ricardo
Caldas e Almeida.
A cada final de ano nos
cumprimentávamos, via cartão de Natal e desejávamos um ao outro um grande Natal
e um Ano Novo cheio de felicidade. Isso se iniciou nos anos oitenta e continuou
até o Natal de 2007. Enviei o cartão ao Morgado e, poucos dias antes do Natal
recebi a resposta, num envelope sem pompas natalinas. Escreveu o amigo Morgado:
Amigo Adauto retribuo os votos de Feliz Natal e Ano Novo. Infelizmente meu
Natal de 2007 não será como de outras datas, pois a minha esposa cumpriu a sua
missão aqui na terra e partiu para junto de Jesus.
Amigo Adauto e esposa sejam muito
felizes! Boas Festas! Votos do amigo Morgado
Em tempo (escrito num cantinho):
Fiquei contente em saber de sua volta ao futebol de mesa; desejo sucesso em
suas novas conquistas. Abraço do amigo de sempre: Morgado.
Junto, como se
fora um cartão de Natal, remeteu uma homenagem à sua esposa Maria da Conceição
Soares Morgado: (22.02.1930/ 29/05/2007).
Não é
necessário dizer que aquilo tudo deixou minhas festas natalinas sem o brilho
que desejava, pois sabia que em Brasília o meu amigo estava sofrendo a dor da
ausência de seu amor eterno.
Mas, a vida nos
reserva surpresas que nem sempre são agradáveis.
O
FuteboldeMesaNews.com.br, publicou uma noticia que complementou a minha tristeza:
Dizia a noticia: A família botonistica de Brasília está de luto. Morreu, dia 2
de fevereiro 2008, o mais antigo técnico de futebol de mesa brasilense: Walter
Morgado.
Vitima de um
ataque cardíaco fulminante, ele faleceu aos 76 anos de idade. É mais um
botonista para disputar o campeonato promovido pelo Todo-Poderoso. Em Brasília
desde 1961, passou a praticar o futebol de mesa na Capital Federal com um grupo
de amigos, das quadras vizinhas a dele, em 1968. Em 1971 criaram a Associação
de Futebol de Mesa de Brasília. Passou para a regra de três toques em 1979 e
permaneceu até 1995, quando problemas em seus joelhos o fizeram abandonar seu
hobby preferido. Nesse período, seu time, o Dragão Negro (em homenagem ao
Flamengo, sua paixão futebolística), desfilou o seu belo e eficiente jogo pelas
mesas de Brasília. Durante todo esse período fazia questão de iniciar cada ano,
sempre no dia 1º de janeiro, com um amistoso contra seu filho Antonio Carlos
Morgado (Arsenal). Disputou poucos brasileiros e, talvez, por isso mesmo, não
seja muito conhecido nacionalmente. Mas, os que não o conheciam podem ter
certeza: era um dos melhores jogadores de futebol de mesa do Brasil.
Transcrevo a
homenagem que a família distribuiu aos amigos na missa de sétimo dia:
“Walter
Morgado, um anjo especial, uma pessoa extremamente feliz e caridosa. Gostava de
viver, mas dizia-se pronto para a vontade de Deus. E essa foi Vossa vontade,
nosso anjo voltou para o céu. Agradecemos a Ele o tempo que o deixou conosco. E
ao Walter, obrigado por seus ensinamentos, conversas, ajudas. Obrigado pelos
momentos de diversão, pelo coração enorme. Obrigado por sua amizade, sua preocupação.
Pensar em você nos deixa mais feliz. Sua companhia era agradável, suas
lembranças, especiais. Walter Morgado, pai, avô, bisavô, sogro, tio, vizinho,
amigo, colega, aluno, paciente... fique bem, pois estarás sempre feliz em
nossos corações! Sentiremos saudade...”
76 anos tinham os dois amigos/irmãos
citados nessas crônicas
Vejam bem as
coincidências. Ambos botonistas, ambos com 76 anos de idade quando os fatos
narrados aconteceram. Um na regra de doze toques, outro na de três toques.
Faltou um na nossa regra, ou seja, de um toque. Por força do destino, em
outubro, eu chego aos 76 anos de idade. Quem sabe não seja o prenúncio do que
poderá acontecer e eu seja o escolhido para figurar com os dois botonistas que
já nos deixaram, fazendo com que a saudade suprisse a sua ausência?
Só posso dizer
que estou preparado e não tenho medo de partir. Tenho certeza de que
encontrarei coisas lindas do lado espiritual. E reverei os grandes amigos que
já nos deixaram, e quem sabe, lá no Paraíso não consigamos implantar o nosso
esporte preferido, se já não está funcionando uma grande Confederação Celestial
de Futebol de Mesa.
Antonio Maria Della Torre (São Paulo)
Natural de Casa
Branca, interior paulista, transferiu-se para a capital em 1963, ano em que eu
assumi meu cargo no Banco do Brasil. Trabalhava em uma empresa japonesa até
aposentar-se. Desde 1953 praticava o futebol de mesa, como qualquer um de nós,
surrupiando os botões dos casacos de suas tias Noêmia e Maria, além de fabricar
botões com tampas de pomadas, cremes, etc. Jogava em sua cidade aos domingos,
após a missa das sete horas, mas nas férias, as disputas passavam a ser
diárias. Seu primeiro time foi conseguido na troca por uma coleção de marcas de
cigarros, e segundo ele, foi um dos times mais feios que possuiu em sua vida,
Seu despertar para o futebol de mesa, na capital paulista, foi quando viu seus
dois filhos: Henrique e Carlinhos jogando em um Estrelão. Viu que os meninos
levavam jeito para a coisa e com isso acabou comprando uma mesa oficial. No inicio
dava goleadas estonteantes neles, mas os dois e mais seu cunhado evoluíram e os
jogos passaram a ser “pau a pau”.
Ao chegar à São
Paulo, orientado por um ex-árbitro casa-branquense, cursou a Escola de Árbitros
da Federação Paulista de Futebol, onde se formou e atuou até 1968, quando
solicitou afastamento por motivos de princípios e escassez de tempo e maior
dedicação ao seu serviço. Um dia, em sua empresa, viu um rapaz com alguns
botões e como havia voltado a jogar em casa, interessou-se e soube que o
referido jovem participava do clube Riachuelo. No sábado seguinte, lá estava
ele, assustado com tanta técnica. Encontrou grandes personagens como Guilherme
Biscasse e Eliahou Vidal. No sábado seguinte teve a felicidade de conhecer
Geraldo Décourt e desde então a sua trajetória marcou o futebol de mesa
paulista e brasileiro. Junto com Décourt criaram o Botunice (Botonistas Unidos
de Campos Elíseos), bairro onde Décourt morava. Como dirigente, levantou a
bandeira da Federação Paulista, organizou a regra de 12 toques e participou da
sequência inicial dos grandes campeonatos brasileiros realizados nessa regra.
Foi um dos baluartes na criação da Confederação Brasileira de Futebol de Mesa,
escrevendo seu nome em letras douradas na unificação das três regras que deram
origem a essa entidade. Foi um amigo maravilhoso, com quem tive a alegria de
conviver inúmeras vezes, quando realizei um Curso no Banco do Brasil, na cidade
de São Paulo. Della Torre residia em São Bernardo do Campo e em sua casa, duas
mesas oficiais acolhiam seus visitantes. Lembro com saudade dos finais de
semana que sempre passava em companhia de botonistas paulistas. Ora, em torneio
na Petlem, ora no Som-só-som, ora no Riachuelo, ou no Botunice, ou assistindo
uma disputa entre as equipes do Botunice com o pessoal de Santos, na baixada
santista. Nosso último encontro foi em Curitiba, quando, no Circulo Militar foi
realizado um torneio entre paranaenses, paulistas e catarinenses. Como seria
esse torneio realizado na regra paranaense, bem próxima da paulista, Della
Torre fabricou um time, tipo argola vermelho e branco para que eu pudesse
participar, pois nossos botões (Regra Brasileira) lisos não serviam para esse
tipo de jogo.
Della Torre,
pouco antes de sua aposentadoria comprou um sítio no interior paulista, seu
sonho de consumo. Para a infelicidade geral de sua família e de seus inúmeros
amigos, sua presença foi requisitada pelo nosso Criador, em setembro de 2000.
Fui comunicado pela querida dona Neusa, do triste passamento desse amigo
inesquecível, uma das maiores personalidades que conheci no futebol de mesa e
que pensava em todos, antes de pensar em si. Além de excelente botonista,
campeão do primeiro campeonato brasileiro na regra paulista, realizado em São
José do Rio Preto, era um caprichoso fabricante de botões e de troféus alusivos
ao nosso esporte. Fui obsequiado com um lindo troféu, ofertado pelos amigos do
Botunice, representando uma mesa oficial, com dois times, metas e goleiros,
sustentado por duas hastes em um pedestal preto de acrílico, com os dizeres: Ao
amigo Sambaquy, dos irmãos do Botunice – SP-out/81.
Claudio Schemes (Porto Alegre)

Esse amigo,
nascido a 28 de maio de 1930, foi uma das pessoas com um coração enorme que o
futebol de mesa teve a alegria de possuir em suas fileiras. Conheci-o quando já
morava em Brusque. Ele, de passagem pela cidade me procurou na agência do Banco
do Brasil, falando no segundo grande amor de sua vida: o futebol de mesa. Sua
maneira dócil e alegre cativou a todos os botonistas brusquenses e isso fez com
que a cidade se tornasse rota obrigatória de sua passagem por Santa Catarina.
Sempre com o seu Rolinter, uma homenagem ao Rolo Compressor, que nos anos 40 a
50 esmagava a todos os seus adversários. Essa amizade fez com que nos
aproximássemos e vimos, através de suas mãos, o Departamento de Futebol de Mesa
do S. C. Internacional surgir e motivar os gaúchos a grandes conquistas nesse
esporte. Vimos nascer a AFUMEPA, da qual foi seu primeiro presidente,
realizando diversos intercâmbios com esses amigos/irmãos, tanto em Brusque como
em Porto Alegre. Conheci a sua casa, à Rua Vicente Palotti, em Porto Alegre,
onde com sua esposa, sua filha Dionéia e seus dois filhos campeões Cláudio Luiz
e Paulo, se tornara o centro do futebol de mesa da capital dos gaúchos. Tenho a
alegria de privar da amizade de seu irmão sanguíneo Mário, que por uma
afinidade toda especial se assemelha ao irmão carismático.
Foi um dos
líderes mais atuantes no futebol de mesa gaúcho, sendo presidente da União
Gaúcha de Futebol de Mesa, hoje Federação Gaúcha, e vice presidente da
Associação Brasileira de Futebol de Mesa, a qual se juntando às Associações que
geriam as duas outras regras, deu origem à Confederação Brasileira de Futebol
de Mesa.
Foi o
idealizador do grupo Bola Branca, que reúne uma elite do futebol de mesa do Rio
Grande do Sul, transmitindo-lhes a harmonia e o companheirismo que ele sempre
soube tão bem viver em sua existência. Ao aposentar-se, passou a dedicar seus
dias ao futebol de mesa, formando uma geração de campeões que ostentam o seu
sobrenome. Quanto orgulho o vovô Cláudio teria ao ver hoje seus netos e
bisnetos praticando o esporte que ele sempre amou e ajudou a fazer tornar-se
grande. Eu acredito que, de onde estiver, deve saborear cada triunfo, cada
jogada feita por seus familiares e vibrar com as conquistas, que não são poucas
e que ele enaltecia com tanto ardor, nas prateleiras carregadas, em sua casa.
Esse amigão nos
deixou, convocado pelo Pai Celestial em 23 de dezembro de 1993, sendo o
primeiro dos baluartes Bola Branca,
homenageado hoje, nesse bate bola da saudade.
Enio Chaulet (Caxias do Sul)
Aos meus amigos
o nome do Enio deverá parecer estranho e desconhecido. Em algumas das minhas
primeiras crônicas falo dele, e dos jogos que fazíamos em sua casa. Enio era
filho de uma professora e de um dentista, e morava no centro de Caxias. Na
época, o apartamento em que residia ficava na parte superior a um Café Bilhar,
em frente à Caixa Econômica Federal. Corriam os anos cinqüenta quando o
conheci. Minha tia Gessy e a mãe dele eram professoras na mesma escola e foi
ela quem nos aproximou. Logo descobrimos que gostávamos do mesmo esporte e com
alegria descobri que o Enio tinha uma mesa enorme em sua casa. A mesa tinha de
ser armada na frente do apartamento, uma espécie de hall de entrada. Eram
necessários dois para levantar a dita mesa. E ali ficávamos sábados e domingos
jogando. Não havia tempo de jogo, era até determinado número de gols. E com
isso, muitos eram os domingos em que eu chegava a casa atrasado para o almoço,
gerando o castigo de não poder ir a matine no cinema Guarany. Foi ali que
começaram a aparecer os primeiros botões puxadores, caríssimos para os nossos
parcos recursos. A regra utilizada era a toque-toque, com algumas variações
adaptadas por nós, pois sempre aparecia gente que jogava em regra diferente.
Com a mudança
de colégios, nossos horários passaram a ser diferenciados e isso foi esvaziando
os encontros, até que pararam de vez.
Quando
introduzimos a Regra Brasileira e espalhamos por vários clubes da cidade, tive
a honra de ver o Enio aparecer na sede do Vasco da Gama, onde praticávamos o
nosso esporte. Chegamos a jogar uma partida em 15 de junho de 1971, e o Enio
continuava sendo um exímio botonista. Depois disso desapareceu, não continuando
a praticar. Faleceu em 16 de agosto de 2006, em Caxias do Sul, deixando saudade
em seus colegas e amigos.
Webber Seixas (Bahia)
Esse baianinho
porreta foi, sem sombra de dúvidas, uma figura impar no mundo do futebol de
mesa (na primeira foto do conjunto de 3 fotos, é o mais baixo, à frente do grupo). Antes de conhecê-lo pessoalmente, já havia recebido fotos de suas
conquistas, através de Oldemar Seixas (não havendo parentesco, apesar do mesmo
sobrenome). Webber se sagrara campeão do Primeiro Nordestão. Ao
chegar em Salvador, juntamente com Ghizi, em
1967, Webber era nossa companhia. Diariamente tínhamos compromissos, em
apresentações nos diversos clubes que praticavam nosso esporte. E o Webber
estava em todos eles, junto conosco. Carregava seu time (Palmeiras) em uma
caixa de plástico. Geralmente, em todos os locais sempre havia algum tipo de
petisco, ou mesmo um jantar, sempre no sentido de nos homenagear. Sobrando
comida, os botões paravam nos bolsos e o resto da comida para a caixa de
plástico. Não tinha vergonha de levar comida para casa, pois tinha vários
filhos.
Jogava
maravilhosamente, mesmo com a dificuldade de seu tamanho diminuto, pois não
conseguia chegar ao centro da mesa, mesmo ficando na pontinha dos pés. Apesar
de haver se sagrado campeão no ano anterior ao primeiro campeonato brasileiro,
não participou da equipe de baianos que disputaram os troféus. Formava com
Roberto Dartanhã e José Santoro Bouças (Pepe) o trio Brahma. Isso porque eram
proprietários de um estádio feito especialmente
para eles, com um contorno arredondado nas cabeceiras, deixando as
traves mais afastadas do que as que são usadas na atualidade. Esse estádio era
chamado Parque Brahma, pois em São Paulo existia o Parque Antártica. Webber era
o homem da piada pronta, não dava para ser levado a sério, pois estava sempre
rindo. Em 1994, quando estive em visita aos amigos baianos, fomos almoçar na
casa de Ademar Carvalho. Comigo estava um amigo brusquense, dentista de
profissão. Na casa de Ademar ficamos jogando conversa fora, quando surge o
Webber, com a segunda esposa e um filho. Cabelo todo branco, mas ainda o
incorrigível gozador de sempre, e atrás de um almoço grátis. Abraçamo-nos com
saudade. Ao ser apresentado ao meu amigo brusquense, foi categórico: -Prazer, Webber Seixas, administrador
do Zoológico. Meu amigo Vilson, um amante da natureza, começou a indagar
sobre a zoologia, quando o Ademar, às gargalhadas, refutou: administrador de
Zoológico não, anotador de jogo do bicho...
Assim era o
Webber, uma pessoa que deixou muita saudade quando partiu. O Oldemar me
comunicou o seu falecimento, pouco tempo depois do falecimento de Ademar
Carvalho.
Por hoje não
vou mais falar de saudade. Teria muitos outros amigos que já partiram a serem
lembrados, mas o espaço é valioso para lamentações e deixarei para outra
ocasião.